CACHORRO SEM COLEIRA
Essa semana estava no trânsito,
sendo mais específico em um engarrafamento e uma cena me chamou a atenção e me
trouxe para uma comparação e reflexão.
Cena: uma pessoa, que vou chamar
de “trabalhador de rua” que limpava vidros de carro nas sinaleiras andava e
atravessava a Avenida nas suas pistas de ida e volta em companhia de um
cachorro de grande porte. Por onde ele ia o cachorro o seguia, não se afastava
do “trabalhador”. O semáforo abria para os carros a pessoa ia para o meio da
Avenida e o cachorro ficava lá com ele. Quando abria e a pessoa ia tentar
limpar os vidros dos carros, lá ia o cachorro atrás. Percebi também que o homem
não gritava, não assobiava nem emitia som nenhum para o animal, somente se
movimentava. E mais um detalhe, e este que me chamou a atenção: o cachorro não
usava coleira e nem guia.
Olhei com um pouco mais de
atenção, e num gramado próximo estava a família deste “trabalhador”. Confesso que agora gostei dessa definição: “trabalhador
de rua”. Mulher e filho e algumas coisas num pedaço de pano.
Quem já criou cachorro sabe um
pouco o trabalho que dá criar e adestrar. Aliás, qualquer animal temos essa
preocupação em nos cercarmos de cuidados para ele sempre estar saudável e não
“fugir”, sair pela rua, não se perder ou pior, alguém o levar. E aqui expondo
minha reflexão para todos os animais, não somente cachorro. Criamos com o maior
zelo, cuidado, mimos, rações, vitaminas, caminha, brinquedinhos, e o que cada
um na sua “loucura” faça pelo seu pet. Mas, focando os cachorros, passeamos com
as guias muito mais por receio dele sair correndo em disparada, ou entrar em
algum lugar indevido, ou pior atravessar uma rua e correr risco por essas e uma
séria de outras condições. Pois, mesmo quem já teve o prazer de passear sem a
guia, sempre ficava com um receio de alguma coisa acontecer e sair do
“controle”.
E aquele cachorro de rua com
aquele “trabalhador de rua”, por que ainda continua ao lado daquela
família/dono? Não tem mimos, não tem comidinha especial, não tem petshop aos
finais de semana. Ele não saiu em disparada pela rua ou trocou a “sua família”
por outra. E está ali próximo e fiel. Até quando? Até o tempo que ele quiser.
E trazendo isso para o ambiente
corporativo, por que temos que tentar encher os nossos funcionários de mimos
(benefícios) e tentar oferecer as melhores condições (higiênicas) para ele se
sentir o mais confortável possível, achando que ele sempre estará conosco, e
que temos que encontrar alguma “coleira” para não o perdermos para o mercado?
Mesmo oferecendo do bom e do melhor, às vezes até se sacrificando ou
sacrificando a empresa em detrimento dessas condições. Mas, se deixar o portão
aberto, corre-se o risco dele nos deixar e trocar por outro dono.
Muitas coisas estão erradas na
Gestão de Pessoas e também com as pessoas, desde o processo seletivo até o seu
desligamento. Um animal bem tratado, não foge, não morde o dono, mas se ele
tiver personalidade vai querer explorar sim outros ambientes, será
independente. E voltará, pois saberá que ali é o melhor lugar para ele enquanto
ele quiser.
Vejo empresas gastando tempo e
recursos em treinamentos, programas, incentivos, benefícios, instalações para
no final perderem seus funcionários por deixarem um portão aberto ou correrem o
risco de algum carro o atropelar ao cruzar a rua. Mas, também vejo ambientes
que não tem nada disso e os negócios prosperam e os funcionários estão ali.
Sim, você poderá dizer que cada caso é um caso e que cada momento de vida
toleramos ou não algumas coisas. Sim, você está certo.
Porém, pense um pouco. Você
empresário. Você gestor. Você profissional. O que realmente lhe prende ou faz
você permanecer neste local e condições. Que “coleira” é essa que você precisa
para poder atravessar a rua ou não perder seu “pet”?
E com toda certeza, não precisa
você ter uma máquina de expresso ou o melhor cappuccino da cidade para segurar
alguém. Pois, a bebida que precisamos para viver é água e não café. Fica aqui a
reflexão.
Um grande abraço, sempre em frente e nunca desista dos seus sonhos!
*Artigo divulgado no site Feminino e Além (http://femininoealem.com.br/23073/cachorro-sem-coleira/). Quinzenalmente às quintas-feiras tem um artigo nosso.