UM PARÁGRAFO DE LUTO
Nossa
editora pediu um artigo falando sobre a tragédia com os jogadores, comissão do
Time da Chapecoense, dos jornalistas e da tripulação. Confesso que me paralisei
e anestesiei por 24 horas. Foram tantas as notícias, relatos, histórias,
estórias, comparações, simulações sobre como pode ter ocorrido o acidente e as
causas. Falar das ações e atos de solidariedade e respeito, excluindo os “Et’s
Políticos” em Brasília, que acontecerem e acontecem por todo o mundo e de toda
forma possível é algo que emociona e toca o coração. Pelo menos até a semana
que vem.
Como
assim tocar até a semana que vem? Você é algum maluco insensível? Você não tem
coração ?
Tenho
coração! Sou sensível! Dois dias meio que anestesiado com essa notícia. Mas, infelizmente,
será mais uma notícia até a próxima! Me senti assim com o acidente de Mariana
(Minas Gerais), me sinto assim quando uma família inteira é morta num acidente
de trânsito por algum erro de alguém, me sinto assim quando cardumes de baleias
e tubarões são assassinados pelo querido e exótico povo oriental. Me sinto
assim quando um tiro perdido acaba com uma família. Me sinto assim quando uma
empresa fecha e famílias perdem seu sustento. Sofro e sofro muito, muitas vezes
calado, mas por dentro.........
E
como meu foco é gestão e empresas, vou me atentar um pouco sobre e para isso.
Trabalhei
numa multinacional que prezava a Segurança dos seus funcionários. Investia em
procedimentos. Desgastava em treinamentos. Obrigava a elaborar POP’s
(procedimento operacional padrão) e outros documentos. Auditava minunciosamente
as práticas e rotinas do dia a dia. Dava autonomia a qualquer funcionário, por
mais baixo que fosse seu escalão a não fazer o trabalho em condições
complicadas e inseguras. Se contar algumas coisas você pode até achar, como eu
na época, que era exagero. Mas, vou te confessar: até hoje eu só troco lâmpada
de casa calçado, usando óculos e olhando para baixo. Absorvi o máximo que pude
e uso até hoje. Dirigindo? Não passo do limite!
Sim,
quando é a nossa hora é a nossa hora não importa o que faça, nosso destino está
ali traçado, muito difícil “driblar” nesse momento. Mas, o que eu poderia falar
sobre esse evento minha querida Editora?
Sobre
a importância dos check-lists, das auditorias, das revisões, dos treinamentos,
da “chatice” de algumas rotinas, da exigência legal de algumas formalidades, de
algumas pessoas “chatas” e da humildade.
Hoje
a mídia já nos diz e traz algumas informações do tipo que não havia combustível
suficiente para o trajeto, segundo o padrão da aviação mundial sobre isso. Que
não havia um plano B, Que o piloto era o dono da companhia. Que a aeronave não
tinha permissão da ANAC para poder fazer esse tipo de vôo. Que o piloto não
explicitou para a Torre sobre sua real situação (pane seca) pois isso
acarretaria sanções econômicas e legais. Que o custo da locação desta aeronave
era muito mais barato que outra. Que a vaidade ou falta de humildade podem ter
falhado em algum momento. E se começarmos a levantar dados e informações encontraremos
mais elementos que serão dados estatísticos que levaram a essa fatalidade.
Sim.
Existe um estudo onde os considerados pequenos e sem importância eventos ao
serem registrados, computados vão gerar todos somados um acidente grave e fatal
em algum momento. Duvida? Pesquise ou converse com algum profissional da área
de Segurança do Trabalho.
Isso
poderia ser evitado essa catástrofe? Quem sabe? Poderia ter salvo essas vidas?
Quem sabe? O poderia e deveria vai acompanhar o resto da vida todos nós. O peso
para os envolvidos diretamente será muito pior.
Empresas
são fechadas ou mudam violentamente a sua gestão por causa de segurança. Pelo
menos em países sérios. Pessoas são penalizadas legalmente e até presas. Quantas
mortes tivemos desde a construção das pirâmides até os mais recentes
empreendimentos? Mas, uma coisa é certa: a proporcionalidade disso mudou.
Diminuiu e muito. Procedimentos de segurança, equipamentos, tecnologia, leis
foram aperfeiçoados e criados para isso. Mas, quando ocorrem os incidentes e
acidentes e ao levantar as causas, podem estar certos, que a grande maioria vem da negligência de
algumas pessoas em alguma etapa.
Sim,
catástrofes podem surgir de forma inesperada. Um tsunami pode de repente acabar
uma cidade. De repente uma barragem pode estourar. De repente ......um bocado
de coisa. Mas, se formos investigar, vamos ver que alguém, em algum momento deu
um sinal, um alerta, um parecer que alguma coisa não estava certa. Porém, outro
alguém achou que podia deixar como está, que nunca aconteceu nada e não será
dessa vez. Ainda temos pessoas que digitam e lêem mensagens no celular ao
dirigir. E sim, essa mesma pessoa se emociona e solidariza com todos nesse
momento.
Temos
hoje tecnologia e condições para quase tudo. Mas, ainda brincamos com a
segurança. Ainda brincamos de deuses e acreditamos que não será conosco. Que
depois de um susto, este poderá virar até piada em reuniões de família ou do
trabalho. Não! Isso não pode virar piada. Segurança e prevenção não pode ser
negligenciado. Tem que ter gestão, investimento, punição! São vidas!
Quando
temos a responsabilidade pela vida de terceiros, empresários, gestores, não
importa quem seja tem que se posicionar. Tem que correr risco e colocar a boca
no trombone. Se perder o emprego por isso, paciência, mas a sua consciência
estará menos sofrida, pois você não negligenciou. Nada de ser cúmplice e
acobertar pequenas falhas e achar que são normais e toleráveis. Não é tolerável
dirigir e falar o telefone. Não é tolerável beber, o mínimo que seja, e dirigir
para qualquer lugar. Não é tolerável um bocado de coisas que toleramos e somos
coniventes.
E
aqui eu deixo meus pêsames, desejando nem sei o que às famílias dos envolvidos
nessa e em todas as catástrofes anunciadas ou não.
E se
por acaso num dia qualquer você achar que deixou a cafeteira ligada e essa
dúvida perdurar. Volte! Sem receio e nem achar que é perda de tempo. E no dia
seguinte, coloque atrás da porta um check-list para certificar se: desligou a
cafeteira, o ar condicionado, o computador, o carregador de celular, fechou a
janela, fechou as torneiras, fechou as janelas, trancou as portas, tirou o
lixo......é chato ?É um saco ? Para mim não, pois vidas podem ser salvas com
isso. E sim, estou muito triste e comovido por mais uma tragédia, por famílias
destroçadas.
Se
durante um jogo pode-se fazer um minuto de silêncio, neste artigo gostaria de
um parágrafo de silencio......
Força
Chape, força famílias, força D. Maria, força Seu João....................que
são D. Maria e Seu João? Fica a sua escolha!