sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

UM PARÁGRAFO DE LUTO

UM PARÁGRAFO DE LUTO

Nossa editora pediu um artigo falando sobre a tragédia com os jogadores, comissão do Time da Chapecoense, dos jornalistas e da tripulação. Confesso que me paralisei e anestesiei por 24 horas. Foram tantas as notícias, relatos, histórias, estórias, comparações, simulações sobre como pode ter ocorrido o acidente e as causas. Falar das ações e atos de solidariedade e respeito, excluindo os “Et’s Políticos” em Brasília, que acontecerem e acontecem por todo o mundo e de toda forma possível é algo que emociona e toca o coração. Pelo menos até a semana que vem.

Como assim tocar até a semana que vem? Você é algum maluco insensível? Você não tem coração ?

Tenho coração! Sou sensível! Dois dias meio que anestesiado com essa notícia. Mas, infelizmente, será mais uma notícia até a próxima! Me senti assim com o acidente de Mariana (Minas Gerais), me sinto assim quando uma família inteira é morta num acidente de trânsito por algum erro de alguém, me sinto assim quando cardumes de baleias e tubarões são assassinados pelo querido e exótico povo oriental. Me sinto assim quando um tiro perdido acaba com uma família. Me sinto assim quando uma empresa fecha e famílias perdem seu sustento. Sofro e sofro muito, muitas vezes calado, mas por dentro.........

E como meu foco é gestão e empresas, vou me atentar um pouco sobre e para isso.

Trabalhei numa multinacional que prezava a Segurança dos seus funcionários. Investia em procedimentos. Desgastava em treinamentos. Obrigava a elaborar POP’s (procedimento operacional padrão) e outros documentos. Auditava minunciosamente as práticas e rotinas do dia a dia. Dava autonomia a qualquer funcionário, por mais baixo que fosse seu escalão a não fazer o trabalho em condições complicadas e inseguras. Se contar algumas coisas você pode até achar, como eu na época, que era exagero. Mas, vou te confessar: até hoje eu só troco lâmpada de casa calçado, usando óculos e olhando para baixo. Absorvi o máximo que pude e uso até hoje. Dirigindo? Não passo do limite!

Sim, quando é a nossa hora é a nossa hora não importa o que faça, nosso destino está ali traçado, muito difícil “driblar” nesse momento. Mas, o que eu poderia falar sobre esse evento minha querida Editora?

Sobre a importância dos check-lists, das auditorias, das revisões, dos treinamentos, da “chatice” de algumas rotinas, da exigência legal de algumas formalidades, de algumas pessoas “chatas” e da humildade.

Hoje a mídia já nos diz e traz algumas informações do tipo que não havia combustível suficiente para o trajeto, segundo o padrão da aviação mundial sobre isso. Que não havia um plano B, Que o piloto era o dono da companhia. Que a aeronave não tinha permissão da ANAC para poder fazer esse tipo de vôo. Que o piloto não explicitou para a Torre sobre sua real situação (pane seca) pois isso acarretaria sanções econômicas e legais. Que o custo da locação desta aeronave era muito mais barato que outra. Que a vaidade ou falta de humildade podem ter falhado em algum momento. E se começarmos a levantar dados e informações encontraremos mais elementos que serão dados estatísticos que levaram a essa fatalidade.

Sim. Existe um estudo onde os considerados pequenos e sem importância eventos ao serem registrados, computados vão gerar todos somados um acidente grave e fatal em algum momento. Duvida? Pesquise ou converse com algum profissional da área de Segurança do Trabalho.

Isso poderia ser evitado essa catástrofe? Quem sabe? Poderia ter salvo essas vidas? Quem sabe? O poderia e deveria vai acompanhar o resto da vida todos nós. O peso para os envolvidos diretamente será muito pior.

Empresas são fechadas ou mudam violentamente a sua gestão por causa de segurança. Pelo menos em países sérios. Pessoas são penalizadas legalmente e até presas. Quantas mortes tivemos desde a construção das pirâmides até os mais recentes empreendimentos? Mas, uma coisa é certa: a proporcionalidade disso mudou. Diminuiu e muito. Procedimentos de segurança, equipamentos, tecnologia, leis foram aperfeiçoados e criados para isso. Mas, quando ocorrem os incidentes e acidentes e ao levantar as causas, podem estar certos, que  a grande maioria vem da negligência de algumas pessoas em alguma etapa.

Sim, catástrofes podem surgir de forma inesperada. Um tsunami pode de repente acabar uma cidade. De repente uma barragem pode estourar. De repente ......um bocado de coisa. Mas, se formos investigar, vamos ver que alguém, em algum momento deu um sinal, um alerta, um parecer que alguma coisa não estava certa. Porém, outro alguém achou que podia deixar como está, que nunca aconteceu nada e não será dessa vez. Ainda temos pessoas que digitam e lêem mensagens no celular ao dirigir. E sim, essa mesma pessoa se emociona e solidariza com todos nesse momento.

Temos hoje tecnologia e condições para quase tudo. Mas, ainda brincamos com a segurança. Ainda brincamos de deuses e acreditamos que não será conosco. Que depois de um susto, este poderá virar até piada em reuniões de família ou do trabalho. Não! Isso não pode virar piada. Segurança e prevenção não pode ser negligenciado. Tem que ter gestão, investimento, punição! São vidas!

Quando temos a responsabilidade pela vida de terceiros, empresários, gestores, não importa quem seja tem que se posicionar. Tem que correr risco e colocar a boca no trombone. Se perder o emprego por isso, paciência, mas a sua consciência estará menos sofrida, pois você não negligenciou. Nada de ser cúmplice e acobertar pequenas falhas e achar que são normais e toleráveis. Não é tolerável dirigir e falar o telefone. Não é tolerável beber, o mínimo que seja, e dirigir para qualquer lugar. Não é tolerável um bocado de coisas que toleramos e somos coniventes.

E aqui eu deixo meus pêsames, desejando nem sei o que às famílias dos envolvidos nessa e em todas as catástrofes anunciadas ou não.

E se por acaso num dia qualquer você achar que deixou a cafeteira ligada e essa dúvida perdurar. Volte! Sem receio e nem achar que é perda de tempo. E no dia seguinte, coloque atrás da porta um check-list para certificar se: desligou a cafeteira, o ar condicionado, o computador, o carregador de celular, fechou a janela, fechou as torneiras, fechou as janelas, trancou as portas, tirou o lixo......é chato ?É um saco ? Para mim não, pois vidas podem ser salvas com isso. E sim, estou muito triste e comovido por mais uma tragédia, por famílias destroçadas.

Se durante um jogo pode-se fazer um minuto de silêncio, neste artigo gostaria de um parágrafo de silencio......









Força Chape, força famílias, força D. Maria, força Seu João....................que são D. Maria e Seu João? Fica a sua escolha!


* artigo divulgado originalmente pelo site Feminino e Além

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